Texto do livro “As viúvas das quintas-feiras” de Cláudia
Piñeiro, escritora argentina com prêmios nacionais e internacionais por sua
obra literária, teatral e jornalística:
...Há de tudo. Mas o cúmulo foi o caso de Mariano Lepera. Na
Taça do Clube ele fez um hole in one e o negou para não pagar a rodada
de champanhe para todos. Deu a tacada na saída do buraco 6, e a bola, após descrever
uma órbita perfeita, caiu no Green, quicou três vezes, rodou e entrou no
buraco marcado pela bandeira. Um tiro só, certeiro. Não foram necessárias mais
tacadas. Só uma. Em qualquer campo de qualquer lugar do mundo, quem faz um hole
in one deve, por cortesia e lei que não está escrita mas que ninguém
discute, pagar uma bebida para todos os que estão no campo neste momento.
Geralmente champagne. Às vezes uísque. Todos, em cada linha, do buraco 1 ao 18.
Mariano Lepera perguntou ao starter quantas pessoas ele havia registrado
nessa manhã e fez um cálculo rápido: 120 jogadores a uma média de cinco pesos
cada um, seiscentos pesos. “Eu não pago isto nem morto”, e foi embora antes que
alguém pudesse lhe cobrar a dívida. Isso não se faz. Ou não se fazia. Não
acontece nada, não há sanção, mas não é próprio de um cavalheiro. Para isso
existe o seguro hole in one. Qualquer seguradora o faz. Elas oferecem à
maioria de nós, quando seguramos a casa. Incêndio, roubo e hole in one,
por mais um poucos centavos mensais. Segura-se um sinistro particular que não é
nem um incêndio, nem um roubo, nem danos a terceiros. Na realidade, segura-se
uma alegria, porque quem emboca uma bola a quase 150 jardas com uma só tacada é
verdadeiramente uma felizardo. Não por acaso, existe no país uma registro no
qual se podem anotar todos os que tiveram a sorte de fazê-lo. Embora a maioria
prefira anotar no registro dos Estados Unidos, para divulgar a proeza em nível
internacional. Uma providência simples, uma carta, uns formulários. É uma desconsideração
não fazer o seguro e não desfrutar disso como cabe. Em toda uma vida é baixa a
probabilidade de se fazer um hole in one, mas a de deixar de ser um
cavalheiro , não.
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