As
quadrilhas que roubam carros estão se sofisticando. Agora, o crime
organizado neutraliza os rastreadores instalados pelas seguradoras nos
automóveis de alto valor
Faz tempo que o roubo e o furto de veículos é um negócio altamente
rentável em todas as regiões do Brasil. Não sei se há uma rede nacional
ou acordos operacionais unindo as quadrilhas especializadas, mas não há
como negar que existe, para dizer o mínimo, pelo menos uma interessante
troca de favores entre os diferentes agentes deste drama, alguns
instalados fora do País.
Não há, entre o pessoal do mercado, quem não conheça pelo menos uma
história envolvendo carros roubados, levados para o Paraguai e Bolívia,
algumas com final absolutamente inusitado, como a em que, acionado, o
chefe da quadrilha da nação vizinha informou que o veículo reclamado
pelo Brasil acabara de ser vendido para a Argentina, mas que não haveria
problema porque ele tinha um exatamente igual e, para atender o pedido,
o mandaria para o Brasil, com as placas originais do veículo
encaminhado para a Argentina, para ficar igual o que havia sido roubado
do "amigo" brasileiro.
Esta história é um clássico e só reforça a certeza de que as fronteiras
nacionais, pelo menos com Paraguai e Bolívia, são uma enorme peneira,
por onde passa mensalmente uma quantidade incrível de veículos roubados
no Brasil.
Mas se ninguém tem dúvida da eficiência dos ladrões em despachar os
carros roubados para os países vizinhos, ficam menos dúvidas ainda sobre
a capacidade das quadrilhas especializadas encaminharem os veículos
para desmanches, que os retalham e somem com eles em poucos minutos.
Pelo número de indenizações de perdas totais por roubo e furto pagas
anualmente, as seguradoras seriam uma das cinco maiores montadoras de
veículos do País. Pasme, é coisa de mais de 300 mil carros por ano.
E o quadro fica bem pior quando lemos nos jornais que a atividade está
altamente profissionalizada, com as diferentes partes da tarefa sendo
feitas por personagens que não se conhecem, o que impede a identificação
dos verdadeiros líderes do negócio.
E as quadrilhas vão se sofisticando. Se há algum tempo asseguradoras
haviam marcado um ponto ao instalar equipamentos de rastreamento nos
veículos mais caros ou mais visados pelos ladrões, agora é a vez do
crime organizado dar o troco, empregando "Capetas" e "Capetinhas" para
neutralizar os rastreadores.
Estes equipamentos, desenvolvidos na Rússia para auxiliar as forças do
governo a combater o crime organizado e as organizações terroristas,
bloqueiam os sinais de rastreadores, celulares, rádios, GPS's e o mais
que utiliza estas tecnologias para informar sua posição.
O resultado é que, com a sua incorporação ao forte arsenal de armas dos
mais variados tipos e calibres, invariavelmente mais modernas do que as
utilizadas pela polícia, as quadrilhas especializadas atingiram um grau
de capacidade operacional tão alto que dão conta de sumir com qualquer
modelo de veículo, por mais protegido que seja, em poucos minutos.
Não há muito o que as seguradoras possam fazer. Elas não têm poder de
ação direta contra o crime. Este é exclusivo do Estado. E para complicar
mais a vida dos proprietários de veículos, é bom não esquecer que
apenas 15% da frota são segurados.
Fonte: CQCS