terça-feira, 3 de abril de 2012

A profissionalização do crime

As quadrilhas que roubam carros estão se sofisticando. Agora, o crime organizado neutraliza os rastreadores instalados pelas seguradoras nos automóveis de alto valor
 
Faz tempo que o roubo e o furto de veículos é um negócio altamente rentável em todas as regiões do Brasil. Não sei se há uma rede nacional ou acordos operacionais unindo as quadrilhas especializadas, mas não há como negar que existe, para dizer o mínimo, pelo menos uma interessante troca de favores entre os diferentes agentes deste drama, alguns instalados fora do País.
 
Não há, entre o pessoal do mercado, quem não conheça pelo menos uma história envolvendo carros roubados, levados para o Paraguai e Bolívia, algumas com final absolutamente inusitado, como a em que, acionado, o chefe da quadrilha da nação vizinha informou que o veículo reclamado pelo Brasil acabara de ser vendido para a Argentina, mas que não haveria problema porque ele tinha um exatamente igual e, para atender o pedido, o mandaria para o Brasil, com as placas originais do veículo encaminhado para a Argentina, para ficar igual o que havia sido roubado do "amigo" brasileiro.
 
Esta história é um clássico e só reforça a certeza de que as fronteiras nacionais, pelo menos com Paraguai e Bolívia, são uma enorme peneira, por onde passa mensalmente uma quantidade incrível de veículos roubados no Brasil.
 
Mas se ninguém tem dúvida da eficiência dos ladrões em despachar os carros roubados para os países vizinhos, ficam menos dúvidas ainda sobre a capacidade das quadrilhas especializadas encaminharem os veículos para desmanches, que os retalham e somem com eles em poucos minutos.
 
Pelo número de indenizações de perdas totais por roubo e furto pagas anualmente, as seguradoras seriam uma das cinco maiores montadoras de veículos do País. Pasme, é coisa de mais de 300 mil carros por ano.
 
E o quadro fica bem pior quando lemos nos jornais que a atividade está altamente profissionalizada, com as diferentes partes da tarefa sendo feitas por personagens que não se conhecem, o que impede a identificação dos verdadeiros líderes do negócio.
 
E as quadrilhas vão se sofisticando. Se há algum tempo asseguradoras haviam marcado um ponto ao instalar equipamentos de rastreamento nos veículos mais caros ou mais visados pelos ladrões, agora é a vez do crime organizado dar o troco, empregando "Capetas" e "Capetinhas" para neutralizar os rastreadores.
 
Estes equipamentos, desenvolvidos na Rússia para auxiliar as forças do governo a combater o crime organizado e as organizações terroristas, bloqueiam os sinais de rastreadores, celulares, rádios, GPS's e o mais que utiliza estas tecnologias para informar sua posição.
 
O resultado é que, com a sua incorporação ao forte arsenal de armas dos mais variados tipos e calibres, invariavelmente mais modernas do que as utilizadas pela polícia, as quadrilhas especializadas atingiram um grau de capacidade operacional tão alto que dão conta de sumir com qualquer modelo de veículo, por mais protegido que seja, em poucos minutos.
 
Não há muito o que as seguradoras possam fazer. Elas não têm poder de ação direta contra o crime. Este é exclusivo do Estado. E para complicar mais a vida dos proprietários de veículos, é bom não esquecer que apenas 15% da frota são segurados.

Fonte: CQCS

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